sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

11.11.11

Já faz um tempo que vi o filme 11.11.11 (queria ter visto na tal data, mas forças do destino - ou melhor, do trabalho - não me permitiram). Demorei pra escrever sobre o filme principalmente por não saber direito o que senti sobre ele.
Fui ao cinema sozinha (pra variar... como sempre faço quando quero ver algum lançamento de terror) numa segunda-feira a tarde pra conferir o filme de Darren Lynn Bousman (que assina o roteiro e a direção). Claro que me irritei com os adolescentes no cinema - confesso que muitas vezes meu instinto "Jason" aflora e tenho vontade de estourar os miolos de todos que insistem em ver filmes conversando e fazendo barulho. Mas passa... hehehe


O filme foi lançado no 11.11.11 pra aproveitar todo o merchan da data que há tempos é cercada de muito misticismo. Muita gente maluca falava do 11.11.11 como sendo um dia que várias coisas bizarras aconteceriam (bom, eu estava na sala de aula com meus alunos às 11:11:11hs e nada demais aconteceu nadaquele dia!). Vários sites falavam da data... alguns até bem engraçados (olha a cética!). O fato é que 11 de novembro de 2011 passou, nada aconteceu e todos eles ficaram feito bobos esperando.

O filme se aproveitou desse clima místico em cima da data e dos números para causar medinho no público! Se conseguiu são outros quinhentos... mas tentar eles tentaram.

A história é a seguinte. Depois da morte trágica de sua esposa e filho (em um incêndio), o escritor Joseph viaja até a Espanha (Barcelona pra ser mais exata) para rever sua família que há tempos não via. Eles não tinham uma boa relação (já que Joseph não acreditava em Deus e seu pai e seu irmão não só eram muito crentes como tinham uma comunidade cristã), mas o pai estava muito doente... o filho queria vê-lo antes que morresse.
O 11.11.11 sempre marca a vida desse rapaz (foi a hora da morte do filho), várias vezes quando ele olha no relógio é 11:11... Ele sofreu um acidente 11:11...
Apesar de seu ceticismo, ele percebe que isso não era só coincidência mas algo muito mais sombrio.


Bom, o filme não é exatamente ruim... mas fizeram tanto alarde... se dourou tanto a pírula que a verdade não correspondeu à realidade. Além disso o diretor tinha assinado alguns dos "jogos mortais" e isso também gerou certa expectativa no público fã do gênero. É um filme bem comum, meio água com açúcar que certamente foi prejudicado pelo circo que foi criado em cima dele!

Diria que é um filme medíocre. Atuações medianas, efeitos especiais medianos, roteiro mediano... Ah, também vale lembrar que os demônios mais pareciam o Lord Sith do que qualquer outra coisa!!! (Não achei imagens deles na internet, mas tenho certeza de que quem viu esse filme e também Star Wars entendeu o que eu quiz dizer). Esse fato, confesso, me fez rir no cinema (#sorry).


É mais um filme que fala de demônios, que portanto traz questões relacionadas à fé e à religião... sobretudo em seu final (que preferi não comentar por aqui).

Vale a pena assistir?
Até vale. Mas vá sem expectativas! Certamente aproveitará muito mais.
Agora se você for mais exigente... não perca seu tempo com a produção!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A hora da escuridão


Esta é uma produção russa e americana sobre uma invasão alienígena.
Dois amigos americanos vão até a Russia para vender uma ideia de um aplicativo para a internet (mas não dá certo, já que a ideia deles é roubada por um vigarista). Já que estavam em Moscou, eles resolveram ir até uma boate para beber e afogar as mágoas. Lá encontram duas garotas americanas. Enfim, é basicamente isso... até que Moscou é invadida por alienígenas. Mas nada de monstros verdes, gosmentos ou naves espaciais... os ETs pareciam luz. Só isso, luz! A princípio é até bonito. Mas só até as pessoas perceberem o quanto eles eram mortais! Ai é aquela correria pra tentar escapar e sobreviver. E é isso.


Confesso que não gostei nem um pouco do filme. Primeiro fiquei muito brava porque ele me foi vendido como filme de terror e, em nenhum momento (nenhum mesmo) eu senti medo... nem um medinho de nada. A situação até poderia ser aterrorizante, mas o diretor não conseguiu passar essa sensação. Outra coisa que me deixou muito brava foi o fato do filme ser em 3D. O ingresso é mais caro e, de boa, não precisava! Não tem nada que faça com que o efeito 3d seja necessário.
Ou seja, um filme fraco, com efeitos especiais medíocres, que não me causou nenhuma emoção (nada... nem medo, nem dó de personagens, nem nada).


Nem queria perder meu tempo escrevendo sobre ele aqui no blog, mas dai pensei no fator "utilidade pública"! Além disso, achei o filme tão ruim, mas tão ruim que tenho até medo de precisar vê-lo novamente! (como uma espécie de tortura).

Tenho pena de alguns atores que pagaram mico na produção. Mas enfim, cada um tem que assumir as bombas que faz!

Mesmo. O filme é uma bomba!


Ah, só um comentário sociológico. O filme se passa em Moscou, Russia. O diretor é russo. Mas até boa parte do filme, dá a impressão que eles querem mostrar o quanto a Russia está americanizada (foco em várias marcas, out doors, cartazes... sobretudo o Mc Donald's - a ponto de me questionar se eles patrocinaram o filme!). Parece que há uma necessidade de criticar a Russia!

Quando o vigarista avisa aos rapazes americanos que roubou sua ideia, diz: "This is Russia!" (oi! como assim? Lá eles são ladrões? Lá roubar é normal?). Na boate, quando acaba a luz (sinal da chegada dos ETs) alguém fala "Ah, Moscou...", como se isso fosse normal por lá! (ou como se só lá acabasse a energia!).
Ai, no final, eu fiquei com a ideia de que o diretor deve ser um saudosista da União Soviética! Pois os sobreviventes pareciam soldados soviéticos! Na hora dos guerreiros, dos sobreviventes, dos que podem salvar a humanidade: a velha Russia! A Russia orgulhosa do seu arsenal bélico, dos seus submarinos! (Senti uma certa nostalgia da Guerra Fria).

Mas enfim, bomba!

Só percam seu tempo se realmente não tiverem mais nada pra fazer! (E olha que, de verdade, ficar em casa vendo Domingão do Faustão pode ser mais divertido!).

#desculpe o desabafo!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Garotos Perdidos

Empolgada pela nostalgia dos clássicos do terror dos anos 80, resolvi rever hoje "The Lost Boys", de 1987.

Esse é mais um dos típicos filmes de terror dos anos 80 em que o suspense, o sangue e as mortes se misturam ao humor adolescente.


A história é a seguinte. Lucy é uma mulher de meia idade, divorciada, que resolve ir para Santa Carla, uma pacata cidade da Califórnia, para morar com seu pai. Leva com ela seus dois filhos, os adolescentes Sam e Michael.
Michael fica encantado por uma bela morena, mas ela pertence a um grupo de jovens bem estranho! Aparentemente, um bando de arruaceiros liderados por David (o "Jack Bauer" Kiefer Sutherland)... Só que depois descobrimos que, na verdade, eles são vampiros.


Sam conhece os irmãos Edgar e Alan Frog em uma loja de HQs. Os Frog insistem para Sam levar uma revista sobre vampiros, mesmo ele dizendo não ser fã do gênero... A princípio o garoto acha tudo maluquice mas, quando seu irmão começa a agir de forma estranha, percebe que as histórias de vampiros eram reais!

E por ai vai!


Esse filme traz várias das famosas lendas sobre vampiros, do tipo:

- Vampiros não podem ser expostos à luz do sol (ou viram cinzas!)
- Vampiros não tem reflexo nos espelhos;
- Vampiros não suportam crucifixos;
- Vampiros não suportam água benta;
- Vampiros não suportam alho;
- Nunca convide um vampiro para entrar em sua casa (ou você não conseguirá atacá-lo e os 4 itens anteriores não surtirão efeito);
- Para matar um vampiro é preciso cravar uma estaca em seu coração.


E, é claro, vampiros precisam se alimentar! E eles se alimentam de sangue humano, claro! (Nada dessa frescura vegetariana de Crepúsculo! hehehehehe).

Este não é um filme assustador (a não ser que você seja um iniciante no gênero, ou se assuste com pouco), mas é bem legal de assistir! (por exemplo, hoje está chovendo e eu aproveitei para vê-lo deitada no sofá comendo pipoca! Típico "sessão da tarde"). Certamente, um filme que deixou muitos fãs pelo mundo! Vale demais a pena conferir!

Algo que merece destaque nesse filme é a trilha sonora! Ele segue uma pegada rock'n'roll. Inclusive no figurino dos vampiros - e de uma enorme bandeira com a foto de Jim Morrison, vocalista do The doors. Inclusive, uma das músicas mais importantes do filme é deles: "People are Strange". Para quem curte o rock dos anos 80, vale a pena até tentar baixá-la! A caracterização de Michael (Jason Patric), também lembra muito Morrison!

Só pra constar, o ator que fez Sam (o filho mais novo), Corey Haim, morreu em março de 2010, vítima de uma overdose com apenas 38 anos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Hellraiser - Renascido do Inferno

Hoje eu li uma crítica do site sobre cinema fantástico mais respeitado por mim (Boca do Inferno) sobre o último filme da franquia Hellraiser (Hellraiser Revelation) que, segundo o site, é uma bomba! Ainda não vi essa "pérola" e confesso que depois do que li fiquei com muito menos vontade de ver. Porém, fiquei nostálgica para ver o filme original de 1987.
O filme de Clive Barker (que além de cineasta é artista plástico e escritor) se transformou em um dos mais cultuados do cinema fantástico de todos os tempos. Muitas pessoas que nunca viram o filme conhecem (pelo menos a imagem) o personagem Pinhead - o cara com os pregos na cabeça (interpretado por Doug Bradley), que se tornou um dos vilões do terror mais icônicos do mundo.
Muitas das obras de Barker são caracterizadas pelo erotismo violento, com muito sangue, escatologia e sadomazoquismo o que choca o público com muita facilidade.


A história do filme (até pra entender melhor esse papo de erotismo e sadomazoquismo) nos mostra Frank - um depravado sexual, que foi em busca de um outro tipo de prazer prometido por uma espécie de cubo mágico (chamado de "Configuração do Lamento") que é capaz de abrir as portas para um mundo inimaginável de prazer: "Para uns o céu, para outros o inferno", como diz o próprio Pinhead em determinado momento do filme. Essa é a questão. O limiar entre a dor e o prazer, o prazer máximo que só pode ser encontrado pela dor máxima. Além disso, para desfrutar de todo esse prazer, a pessoa que abre o cubo precisa dar sua alma aos cenobitas - e não há volta!
Frank é destroçado pelos cenobitas... claro!


Algum tempo depois, o irmão de Frank, Larry resolve voltar para a casa da família (onde Frank vivia... e onde abriu o cubo) com sua esposa Julia. Sua filha, que já é uma jovem adulta, resolve cuidar da própria vida e alugar um espaço para ela... Pelo visto, seu relacionamento com a madrasta não é muito bom! (Não sabemos muito sobre sua mãe... só que ela morreu).
Acontece que, um acidente faz com que a mão de Larry sangre e, o sangue cai sobre o piso do quarto em que Frank realizou o tal ritual. E, este sangue, faz com que Frank retorne dos mortos. Descobrimos nesse meio tempo que Julia, a esposa de Larry teve um caso com o concunhado. Um super caso caliente, cheio de fogo e paixão. Frank convense a mulher a ajudá-lo a recuperar sua forma. Para isso ela precisaria trazer sangue para ele!


É ai que Julia se transforma em uma assassina! Tudo por uma paixão maluca.
Frank vai ficando cada vez mais forte, seu corpo cada vez mais completo... Mas bem, claro que não é tão simples fugir dos cenobitas.

Apesar de bastante conhecido, Pinhead não é o foco desse filme, que fica muito mais no processo de "reconstrução" de Frank com a ajuda de Julia.


Apesar de ser um filme dos anos 80 (que fará 25 anos em 2012) tem muitas cenas gore bem feitas! Claro que a pele sendo puxada pelos ganchos deixa a desejar, mas vamos combinar que pra tecnologia que tinham na época, é surpreendente.

Os personagens criados por Barker e a execução de suas ideias nas maquiagens cria um clima meio sadomazoquista, meio futurista. Muito couro, verniz, argolas... Lembra muito o visual de filmes com temáticas sado. Lembra muito também aquelas performances em que pessoas ficam suspensas por ganchos.


Esse é um filme que eu gosto bastante e que pode agradar até essa nova geração que só curte o cinema de terror gore!

Bom, como comentei no início do post, este é um filme que ganhou uma sequência (bem longa e ruim, inclusive):
- Hellraiser 2: Hellbound (1988)
- Hellraiser 3 (1992)
- Hellraiser, a herança maldita (1996)
- Hellraiser, inferno (2000)
- Hellraiser, caçador do inferno (2002)
- Hellraiser, o retorno dos mortos (2005)
- Hellraiser: Hellworld (2005)
- Hellraiser: Revelation (2011)

São 9 filmes... mas destes, creio que no máximo até o quarto vale a pena! Mas enfim, gosto é gosto!
Só pra lembrar, não vi o último... me recuso! Pelo bem da ideia que tenho da série e por respeito a Clive Barker (que não tem ligação nenhuma com a empreitada... e ficou até bravo por seu nome ser citado nos créditos).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sexta-feira 13 - Parte 2

Como hoje é sexta-feira 13 resolvi rever um dos clássicos do cinema de terror: Sexta-feira 13 parte 2. Bom,  pra quem não sabe, é esse o primeiro filme em que o grande assassino das telas Jason Voorhees aparece de fato (ver post sobre Sexta-feira 13).


O filme começa dois meses depois dos eventos do primeiro filme com a mocinha sobrevivente (Alice) tendo alguns pesadelos com o que viveu no Acampamento Cristal Lake - as cenas também nos ajudam a lembrar dos acontecimentos, o que será importante para entender um pouco mais a trama. Uma noite, ela é misteriosamente assassinada. Seu corpo desaparece e ninguém sabe ao certo o que aconteceu a ela.
O tempo passa (5 anos para ser exata). O acampamento está interditado e a presença de Jason se transforma em uma espécie de lenda - é importante lembrar que Alice, quando é resgatada pelos policiais (no primeiro filme, relembrado no início do segundo) pergunta sobre o menino no lago (lembram da cena? Tem uma foto dela no post do primeiro filme). Ao ouvir que os policiais não encontraram nenhum menino, ela comenta que então ele ainda deve estar lá.
Algumas pessoas da região diziam ter visto Jason na floresta, o que serviu para aumentar as especulações sobre ele realmente estar vivo.


Bom, isso não amedronta Paul, que decide abrir um acampamento do lado de Cristal Lake. Ele chama uma série de jovens para um treinamento de monitores. O velho Ralph (que também aparece no primeiro filme) tenta avisar os jovens sobre os perigos do lugar, mas todos o ignoram.
E ai já se imagina o que vem pela frente. Um massacre!

Não vou contar a história do filme em detalhes, mas gostaria de dizer que acho esse melhor que o primeiro, sobretudo pelo clima de pânico que é criado. Acontecem mais mortes (mais ainda continuo gostando mais da morte de Jack no primeiro filme).


Também gosto mais desse por ser Jason o assassino. Um garoto deformado (que usa um saco na cabeça - isso mesmo, um saco! Sei que muitos conhecem Jason com a máscara de Hóquei na cabeça, mas não... ele ainda não a usa), doente, que viu a mãe morrer decapitada e resolveu se vingar de todos que invadem sua área. Além disso, a sequência da perseguição final é bem melhor que a do filme anterior - incluindo a ótima tentativa da mocinha (que estudava psicologia) de se passar pela mãe de Jason.
Ah, também gostaria comentar que esse é o único filme de terror que eu vi até hoje em que há um personagem cadeirante (será que tem outro? Se alguém souber me fala). Muitas vezes vemos cadeirantes como "coitados", mas Jason não estava nem ai! Sua morte é bem bacana! (Ou seja, inclusão! Nada de salvar o carinha só porque ele é cadeirante).


Outro comentário (bobo, mas que tem sentido): se transar, morre! Quem transa nos filmes, não sobrevive!!! hehehehe (Será que tem alguma relação com o fato de que dois monitores que deveriam estar cuidando dele estavam transando enquanto ele se afogou no lago?)
Alguns devem estar pensando... se ele se afogou no lago, como ele está vivo matando pessoas? Bom, talvez ele não tenha se afogado, tenha conseguido se salvar mas tenha ficado assustado demais. Sua mãe, pensando que ele morreu matou várias pessoas até que ele a viu morrer. E ai pronto, um maluco assassino é criado. Também podemos pensar na ideia de que ele morreu sim, e esse Jason é um monstro (assim como Freddy Krugger). Bom, eu sei a resposta... mas coloquei a pergunta pensando no que aparece apenas nos dois primeiros filmes!


Vale a pena assistir ou rever - se você, como eu, o viu há muuuuuito tempo.

Os produtores resolveram fazer a sequência graças ao sucesso do primeiro filme. Não existia a ideia de Jason ser o vilão, mas como todos vimos a mãe (a vilã original) morrer decapitada por Alice, era necessário se inventar algo diferente. E foi incrível! Eles criaram Jason, um dos maiores vilões dos cinemas de todos os tempos! Tem muita gente que nunca viu os filmes mas já ouviu falar em Jason! Que conhece a máscara do assassino.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Anticristo

Já faz algum tempo que eu queria escrever sobre esse filme... Sempre faltava palavras. Não que agora eu tenha decifrado todo o enigma de Lars Von Trier, mas quero tentar.
Gosto muito desse cineasta maluco detestado por muitos. O primeiro filme seu que vi foi o musical "Dançando no escuro". Não sabia nada sobre ele, mas fiquei curiosa porque o filme tinha a cantora Bijork no elenco. Foi uma experiência traumática, mas ao mesmo tempo sensacional. Chorei como nunca tinha chorado antes vendo um filme. Precisei de um tempo para conseguir me acalmar depois que o filme acabou. Ao invés de fugir do cineasta, resolvi conhecer um pouco mais sobre ele e me surpreendi ainda mais.
Pra tentar entender um pouquinho mais de Lars Von Trier, é preciso primeiro saber que ele participou de um movimento artístico cinematográfico nos anos 90 chamado "Dogma 95", que surgiu em Copenhage, Dinamarca. Basicamente, eles buscavam um cinema mais realista e crítico e menos comercial. A cena deveria ser gravada sem efeitos especiais, os sons deveriam ser diretos e a câmera seria conduzida pelo próprio cineasta. Algo parecido aconteceu anos antes no Brasil, com o movimento chamado Cinema Novo, que teve Glauber Rocha como um de seus principais representantes. Glauber dizia que para se fazer cinema era necessário apenas uma "ideia na cabeça e uma câmera na mão".

Lars Von Trier não seguiu a risca o Dogma 95 por muito tempo, mas algumas dessas ideias ainda podem ser vistas em seus filmes que trazem muitas reflexões ao público. Ou seja, aqueles que encaram o cinema apenas como diversão e entretenimento devem passar longe de suas produções.

Mas vamos a Anticristo. Certamente terão spoilers no texto... além de algumas opiniões pessoais!


Mais uma vez o diretor divide a obra em capítulos ("Luto", "Dor", "Desespero" e "Os três mendigos"), mais um prólogo e um epílogo. O enredo em si é simples: um casal perdeu um filho e a esposa não aceita. Sente-se culpada. O marido, um terapeuta, decide ele mesmo tratar da esposa.
O que faz do filme tão denso é o modo como as cenas são realizadas, são os detalhes, os símbolos que ele apresenta que nos fazem pensar em razão, religião, moral...

No prólogo, filmado em preto-e-branco, com uma trilha sonora espetacular (Ave MAria de Händel) e cenas em câmera lenta, vemos o casal fazendo sexo de forma intensa e poética. Sim, isso mesmo: poética. Apesar das imagens serem bem explícitas, não é vulgar - isso, claro, pelo medo como foi filmada. Paralelo a isso, vemos a criança escapando do berço e indo em direção da janela. O menino cai enquanto os pais têm um orgasmo. Lindo e trágico.
Em seguida somos submetidos ao velho estilo Lars Von Trier de filmar: câmeras que "balançam", só o som da cena, sem efeitos (com alguns momentos de cenas mais artísticas, sempre simbólicas).


A loucura dessa mulher por sentir-se culpada pela morte do filho (lindamente mostrada no prólogo) vai a consumindo e é isso que vemos na tela, misturada a tentativa do marido em encontrar uma solução e a esposa não resistindo à culpa.
Em sua pesquisa, o marido procura descobrir o que a esposa teme, para que ela aprenda a lidar com o medo. Descobre que o que ela tema é a natureza, assim eles vão para uma cabana no meio da floresta chamada por eles de Éden. Lá, no meio da natureza, longe da civilização, isolados de tudo, a mulher começa a ficar cada vez mais violenta. Seria fruto da loucura ou de sua natureza maligna?

Alguns meses antes, ela tinha estado ali em Éden para tentar escrever sua tese. A criança esteve com ela durante esse tempo. Ela pesquisava sobre o sofrimento das mulheres medievais que eram acusadas de bruxaria, torturadas e mortas, muitas vezes, só por serem mulheres. Mas ao longo de sua pesquisa, ela chegou a conclusão de que talvez as mulheres realmente fossem realmente más: naturalmente malignas.
Em um momento do filme ela diz que é "a natureza que controla a mulher". Sendo assim, ela poderia não estar só enlouquecendo, mas despertando sua verdadeira natureza.
Outra questão que tem relação com isso, é o furor que essa mulher tem pelo sexo. Ela quer e quer sexo. Ele, em um momento, pede para que ela se afaste, pois precisa conseguir vê-la como uma paciente, mas ela não consegue resistir.

O sexo, para a igreja (que queimava as mulheres na idade média) é pecado. No filme, é a mulher que sempre vai atrás do marido pelo sexo. É ela a pecadora, a "Eva" que come a maçã, que não resiste à tentação. É durante o ato sexual que a criança morre. Além disso, a castração (baita cena forte, inclusive!) dos dois é algo que vem como a punição: ela não quer mais sentir prazer, já que o prazer é o que a torna pecadora. Foi pelo prazer que ela deixou o filho morrer (sim, há uma cena de flash back que insinua que ela viu o menino caminhando para a janela e não fez nada).
A mulher, é a que carrega o pecado (não vamos esquecer que o cristianismo, religião que domina o mundo ocidental, você goste ou não, é uma religião extremamente magista. Foi Eva, uma mulher, quem comeu a maçã. São as mulheres que são fracas, impuras e inferiores - não estou inventando nada... muito disso que disse está escrito na Bíblia). A mulher do filme nem tem nome. É "A" mulher.


O título do filme faz com que algumas pessoas pensem que se trata de um filme sobre possessões, sobre "o" anticristo. Mas notem que o título não tem o artigo. É apenas Anticristo.
Uma ipótese é que o tal anticristo é a natureza - tanto a natureza em sim: plantas, animais... como a nossa natureza humana pecadora.
Também pode ser uma postura ideológica do autor. Quem sabe um manifesto contra o cristianismo (sobretudo ao cristianismo opressor, machista, preconceituoso e manipulador).
Além disso, não podemos esquecer que Lars Von Trier é filho de ateus e que aos 12 anos ganhou de seus pais um exemplar de "O Anticristo" de Nietzche: uma declaração contra o cristianismo. Talvez o filme seja antirreligioso... tentando dizer pra gente que sexo não é pecado e que a mulher não é impura. E que é esse sentimento de culpa cristão o grande responsável por tantas tragédias.

O que acho meio estranho é que, até onde sei, Lars Von Trier se converteu ao cristianismo. Será que essa "conversão" faz parte de algum plano de parecer ainda mais polêmico?

Em entrevistas, ele contou que fez esse filme para se livrar de uma depressão (e ai resolveu passá-la pro público!) e que, por isso, considera o filme, um dos momentos mais importantes de sua vida e, o mais importante de sua carreira.

A atriz inglesa Charlotte Gainsbourg recebeu a Palma de Ouro em Cannes (2009) por sua ótima atuação - poxa, esse diretor realmente sabe fazer as atrizes renderem (várias outras atrizes de seus filmes receberam o mesmo prêmio).

Enfim, esse é um filme que deve ser visto. Muitos amaram, muitos odiaram. Acho bastante triste e até deprimente... mas bonito. É confuso dizer o que sinto por esse filme. Pra mim ele é lindo, poético, mas triste e deprimente. Me deixa triste. Mas eu gosto... porque me faz pensar na vida, na natureza humana, nos meus valores.
Acho que sempre vale a pena ver os filmes desse diretor maluco. Porque sim, ele é bem maluco, mas não podemos negar que o que ele faz é arte (lembremos que, nem sempre entendemos as obras de arte contemporâneas, mas elas sempre tem muuuuitas coisas pra nos dizer).

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A pele que habito

Estive algum tempo longe do blog, vi vários filmes desde o último post e resolvi aproveitar para colocar as coisas "em dia".
Resolvi começar pelo esperado (por mim, pelo menos) "La piel que habito", de meu amado Pedro Almodóvar.


Este não é exatamente um filme de terror, mas assim como "Cisne Negro" trata de temas que levam ao medo.
Este é o último filme do (amado) cineasta espanhol Pedro Almodóvar (de "Má Educação", "Volver", "Fale com ela", "Tudo sobre minha mãe" entre outros). É a primeira vez que o cineasta caminha por caminhos mais sombrios. O drama familiar, a dor, a morte... sempre estiveram de uma forma ou outra presentes em seus filmes, mas agora ele desce mais ao fundo do abismo do medo.


Inspirado no romance francês "Tarantula", de Thierry Jonquet (de 1984), esse é um filme espetacular.
"A pele que habito" conta a história do cirurgião plástico Robert Ledgard (Antonio Bandeiras), obstinado a construir uma pele pefeita, capaz de suportar a dor e, sobretudo o fogo (que tinha acabado com a vida de sua esposa anos antes). O médico realiza seus experimentos em uma moça chamada Vera, que vive em sua casa presa a um quarto. A princípio nos parece que o filme trata apenas de um "Dr. Frankenstein" moderno que faz suas pesquisas sem se preocupar com a ética médica. Mas as coisas são muito, muito mais complexas.


A história vai indo e vindo no tempo e vamos conhecendo outros personagens do drama. Descobrimos o que aconteceu a esposa do Dr. Ledgard e também à sua filha. Descobrimos quem é Vera e porque ela está naquela casa... descobrimos que Vera é "a cara" da esposa morta do médico, e que isso não é uma coincidência... que Marília, a empregada é bem mais que isso... e que apesar de passear por um novo estilo cinematográfico, Almodóvar não deixa de discutir a sexualidade, os segredos, os jogos de poder, o kitsch, os tabus sociais...

Almodóvar está um pouco menos colorido, mais ainda assim usa cores fortes (o que podemos dizer do sangue super vermelho?)... A mansão em que vive o médico é repleta de obras de arte (todas com cores quentes, intensas) - incluindo uma obra da brasileira Tarsila do Amaral ("Paisagem com ponte")


Não sou uma expert no assunto, mas acho que o cineasta espanhol se inspirou muito em Hitchcook para fazer este filme (sobretudo em "Um corpo que cai", de 1959, que merece um post aqui no blog) e também no filme francês "Olhos sem rosto", de 1960 (outro que precisa um post) de Georges Franju. São filmes que falam de obsessões... nos três filmes, o personagem principal são capazes de tudo (tudo mesmo) para recriar a alguma maneira o objeto (uma mulher) dos seus desejos. Bom, não coloquei "objeto" de propósito. Mas não vejo semelhanças só no tema, mas no como as ações cênicas são desenvolvidas.

Enfim, este é um filme incrível. Eu que sou fã de Almodóvar digo que foi um alívio delicioso - já que não gostei do último antes desse ("Los abrazos rotos").

Não quero contar a história em detalhes para guardar o suspense.

Ah, pra quem gosta de filmes de terror cheio de sangue e mutilações, este não é um bom filme. Mas para quem gosta de suspense, tortura (psicológica, sobretudo) e até crueldade, é uma excelente opção!

E inclusive, escrever isso aqui me deu vontade de rever o filme!