terça-feira, 22 de março de 2016

O exorcismo de Emily Rose

Este não é exatamente um filme de terror, mas um filme de tribunal.
“O exorcismo de Emily Rose” foi baseado em uma história real, o caso de Anneliese Michel, uma alemã que em 1976, aos 24 anos, morreu (oficialmente) de desidratação e desnutrição. Na verdade, ninguém sabe ao certo o que realmente aconteceu, se foi um caso espiritual ou psiquiátrico.
No caso original, apesar dos diagnósticos médicos apontarem epilepsia associada à esquizofrenia, a família – que era muito religiosa – escolheu seguir apenas com os exorcismos. Depois de sua morte, os dois padres que fizeram os exorcismos e seus pais foram condenados por negligência resultante em morte (homicídio culposo e omissão de socorro).


Essas são as fotos de antes de depois de Anneliese Michel.

Além de “O exorcismo de Emily Rose”, o caso de Annelise também originou um outro filme: “Requiem”, uma produção alemã que eu não vi.
No filme de 2005, dirigido por Scott Derrockson, temos algumas diferenças em relação à história real, mas o sentido de tudo permanece o mesmo.


A jovem Emily morre depois de um ritual de exorcismo e o padre Morre, que cuidou dela, é preso por sua morte. Ao evitar um acordo com a promotoria, foi levado a julgamento. Ele alegava não temer a prisão, mas queria ter a chance de contar a todos o que realmente tinha acontecido à Emily.
O promotor escolhido para o caso era um evangélico muito ativo na comunidade. Era catequista, participava do coro e se dizia um homem de fé. Já a advogada da defesa era uma mulher que tinha suas dúvidas e se considerava agnóstica.
A história de Emily é contada pelas testemunhas do julgamento. Efeito cinematográfico interessante, que acaba sendo quase que um expediente épico (coisa de teatro, desenvolvida por Bertolt Brecht) – somos envolvidos por uma atmosfera de terror, e, quando isso começa a se tornar assustador, voltamos ao tempo presente, ao tribunal.
Claro que o terror não fica somente nos flash backs da história de Emily, já que a advogada também acaba sendo atormentada por algo que ela desconhece.
Estaria Emily possuída pelo demônio ou realmente sofria de alguma psicose?
No tribunal, o médico da universidade afirmou que viu Emily e que um eletroencefalograma revelou um possível foco epilético no lobo temporal esquerdo da jovem. Que tinha prescrito um remédio chamado “Gambutrol” (um medicamento que não existe, que seria usado para epilepsia) e que teria pedido para que a jovem continuasse o tratamento com mais consultas e exames, mas ela não teria voltado alegando que seu problema era espiritual, e que seu padre era da mesma opinião.
Teria sido a falta do remédio, que Emily parou de tomar, que gerou tais alucinações que a levaram a morte? Ou realmente ela estaria possuída pelo demônio?
No filme, suas crises começaram quando ela foi para a universidade. Estava em uma cidade grande, cercada por desconhecidos, descobrindo um mundo grande. Será que não teriam sido esses fatores que desencadearam esses surtos psicóticos? Mas se fosse isso, eles não melhorariam quando ela voltou pra casa dos pais? Ou será que eles melhorariam se ela tivesse continuado com os medicamentos? Será que, como alegou a defesa, o medicamento ao invés de ajuda-la foi o que fez com que o exorcismo não desse certo e, portanto, o que a levou a morte?
Sei por experiência própria que medicamentos psiquiátricos afetam muito a nossa mente e, quando interrompemos o seu uso de modo brusco, eles geram efeitos colaterais muito ruins. Acrescente a isso o fato de Emily ser extremamente cristã e realmente acreditar em forças demoníacas.
Em uma crise de pânico, por exemplo, sentimos estar morrendo. Tudo dói. Realmente parece que coisas sobrenaturais estão acontecendo.
Mas ai eu me questiono (e também a você): será que realmente é tudo criado por um cérebro doente ou será que realmente essas coisas sobrenaturais existem?
Tive uma criação cristã, aprendi desde bem cedo que Deus existe e, consequentemente, também o demônio. Mas ao longo dos anos fui me tornando um pouco cética.
Uma das coisas que eu mais gosto nesse filme é tentar nos mostrar os dois lados. Poderia ser o demônio, mas também poderia não ser. E será que seguir suas crenças, realmente pensando estar fazendo a coisa certa é um crime?
A advogada que tinha acabado de defender um criminoso que foi absolvido por sua incrível defesa, e que descobre que ele era realmente um assassino começa a questionar o valor de seus atos. Começa a questionar o quanto ela errou ao defende-lo. E dentro desses questionamentos, começa a refletir sobre o casso do padre Moore. Mesmo tendo sido culpado pela morte de Emily por negligência, já que teria sido ele quem a aconselhou a não tomar mais os medicamentos, ele teria feito por mal? Será que realmente não valeria a pena defender um homem bom (para se redimir, talvez)? Toda essa reflexão a faz ver coisas estranhas. Seriam manifestações demoníacas ou ela estaria paranoica? Estaria impressionada com a história de Emily e com o sentimento de culpa por ter tirado da prisão um assassino?
Outra questão que o julgamento traz é o fazer caso o paciente recuse o tratamento. Um médico chamado pela promotoria diz que a jovem deveria ter sido levada a força para que fosse submetida a um tratamento mais severo, que deveria ser forçada a se alimentar. Mas será que isso é correto? Será    que realmente devemos forçar alguém a receber um tratamento que não deseja?
No filme, somos levados a crer que Emily realmente estava possuída. Que o demônio existe e que ele pode estar conosco a todo momento. Até mesmo a advogada, que não acreditava, começa a pensar na possibilidade disso tudo ser real. Afinal, ela mesmo vivenciou algumas coisas no mínimo estranhas.
Acho esse um ótimo filme de tribunal. Bem interessante para pensarmos em como os fatos são relativos e como é realmente estreita a linha que separa o real do espiritual.
Voltando ao caso real que originou o filme: nunca saberemos se Anneliese realmente foi possuída ou se sofria de um grave distúrbio psicológico.
Gosto do final desse filme, penso que teria feito o mesmo que os cidadãos do júri.
Mas esse tipo de filme me faz refletir muito sobre os poderes da mente humana e se há, de fato, forças superiores que conseguem interferir no nosso destino.


Ah, para quem gosta de filmes de possessão, aviso que não é exatamente um filme assustador, mas os (poucos) momentos que vemos Emily (numa ótima performance de Jennifer Carpenter) possuída são ótimos!


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