sábado, 12 de março de 2016

A Bruxa

Ontem fui assistir "A Bruxa". Tinha lido um artigo no "Boca do inferno" que me deixou muito curiosa. Ele falava pra que não fossemos ver o filme no cinema. Evidentemente me deu ainda mais vontade de ver.
Cinema de shopping, sessão lotada.



Gostei muito do filme. Achei sensacional. Gostei da trilha sonora (que me chamou a atenção, por seu caráter contemporâneo, quase música eletroacústica, logo nos primeiros segundos do filme). Adorei a fotografia. Além de ser rodado em lugares belíssimos, gostei bastante do modo como a câmera nos conduzia ao enredo. Adorei os figurinos, todos impecáveis. Adorei os atores, sobretudo a atriz que faz a mãe (que eu já conhecia de Game of thrones).
Achei o filme belíssimo.
Bom, nem parece que estou falando de um filme de terror.
Muito provavelmente a maior parte da plateia que dividiu comigo essa experiência pensou o mesmo. Certamente a geração "jogos mortais" não conseguiu encontrar o terror no filme. Para aqueles que foram em busca de sustos, vísceras, monstros e as mesmas "cartas batidas" de sempre, certam não conseguiram ver além de um filme de drama que estava mais pra filme de arte europeu (e, provavelmente, essas mesmas pessoas também não estavam preparadas para um filme de arte desse tipo).
Se você só gosta do terror descarado, daqueles que vemos pra tomar uns sustos e depois rir de nós mesmos por isso, você não vai gostar da "Bruxa". Se você quer um filme que vai te deixar enjoado e que você vai se sentir obrigado a fechar os olhos em algumas cenas, também não vai gostar. Se pra você o ritmo de um filme de terror deve ser alucinante, vai achar chato e, talvez, sentir sono.
A maioria das pessoas que estavam na sala comigo não gostaram do filme.
A maioria saiu falando mal, colocando defeitos que, pra mim, só poderiam vir de quem não estava preparado para esse tipo de filme. Que esperavam outro tipo de terror... Desses mais enlatados que estamos bem mais acostumados a ver na tela grande.
Mas eu, eu adorei "A Bruxa".
Confesso que, ao perceber o desconforto da plateia quando os créditos começaram a subir, cheguei a pensar que ou eu sou maluca, ou eu sou "professora de artes" demais. Fiquei me questionando se eu tinha realmente achado o filme bom ou se eu só tinha gostado pelo ar mais "cult" que ele tem. Não vou mentir. Eu realmente tenho muito mais repertório de arte e de cinema que muita gente (provavelmente a maioria) daquela sala... talvez até em filmes do gênero - afinal, eu sou uma amante confessa do cinema de horror. Mas enfim, ver todas aquelas pessoas falando mal me fez me sentir meio arrogante... e eu não gosto de me sentir assim.
O fato é que eu gostei. Gostei muito.
Eu vi terror em lugares que, provavelmente, essas pessoas não viram porque têm medo demais em olhar pra dentro de si. O filme toca em assuntos que, a maioria das pessoas, por pura hipocrisia, não relacionam a elas, mas elas estão cheias desses elementos.
É claro que é muito mais fácil a gente ver o filme pensando só naquela família, mas pra mim, do modo como o diretor fez, do modo como ele nos fez ver tudo, não consegui não olhar para mim também. Não consegui não sentir parte de tudo aquilo, cumplice até.
Acho que eu só não grudei ainda mais na poltrona do cinema porque estava preocupada demais em pensar... Pensar e pensar o tempo todo.
A cada ação de cada membro da família eu me via lá... fazendo o mesmo - mesmo que, assumir isso fosse extremamente difícil. Isso me assustou. Isso me deixou com medo da bruxa.
Sai da sala e só não permaneci apavorada porque minha reflexão foi quebrada por jovens (não tão jovens assim) que zombavam do filme... Diziam que tinha sido a pior coisa que viram no cinema nos últimos tempos, que o dinheiro foi jogado no lixo... Que não era um filme de terror... Uma moça até comentou com a outra: "poxa, não levei nem um susto! Quando o filme de terror é bom, consegue dar sustos" (e eu, quieta na minha ira pensava: moça, você não sabe o que é filme de terror). Aquelas vozes quase em coro falando coisas sem sentido em relação ao filme me perturbaram. Me deixaram ainda mais pensativa. Quando elas foram embora, me senti novamente na floresta e, também por isso, quase que me vi cedendo aos fascínios das chamas.
Bom, "A Bruxa" é um filme muito bom para aqueles que conseguem perceber que o terror está além do susto ou do gore. Para aqueles que conseguem perceber o terror em um filme como "O bebê de Rosemary", por exemplo, ele pode ser incrivelmente macabro. Se você consegue perceber que o diretor não só está contando uma história (mas fazendo bem o que se fazia antigamente, quando as famílias contavam histórias em volta de fogueiras... Histórias cheias de metáforas, duplos sentidos, para fazer a gente pensar além do literal) esse filme pode te deixar de cabelos em pé.
Não é um filme pra ir com a galera e dar risada depois.
Não é um filme pra relaxar (tá, pode parecer estranho, mas eu vejo alguns tipos de terror pra relaxar).
Mas a tal bruxa me deu medo. Um medo estranho, diferente, mas intenso. Um medo que, provavelmente, levarei pra sempre comigo a partir de agora.

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