segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Salmo 21

Depois de meses sem escrever nada aqui no blog, resolvi voltar - afinal, me sobrou um pouco de tempo para isso (andei muito ocupada e estressada nos últimos meses).

Um conhecido me indicou o filme sueco "Salmo 21", já que eu costumo gostar de produções europeias.
Para quem nunca ouviu falar nada do filme a história é basicamente a seguinte:


Henrik é um jovem padre luterano que vive em Estocolmo. (Apesar de ser padre é separado de sua esposa, que vive com outro homem. Eles tem um filho que, aparentemente se dá melhor com o padrasto que com o próprio pai). Ele é frequentemente atormentado por pesadelos com sua falecida mãe.
Um dia, recebe a notícia de que seu pai (que também era padre luterano e que estava afastado dele há muitos anos e que vivia em Hammerdal, um povoado remoto da Suécia) tinha morrido afogado.
O jovem padre vai até o tal povoado para saber mais sobre o que aconteceu.
Lá ele se depara não só com pessoas estranhas que parecem querer esconder várias coisas deles, mas também com o inferno.

O filme é meio estranho. Não sei dizer se eu gostei ou não dele. Achei interessante, mas não é o tipo de filme que me chama a atenção.
O roteiro é um tanto mal formulado. Tem, em minha opinião, cenas desnecessárias (como a que ele está com a "menina demônio" na cama do celeiro!). O filme tem uma ideia legal, mas não acho que foi bem trabalhada cinematograficamente, fazendo com que pareça confuso e vazio.


Não é um filme que vai te dar sustos, nem tem cenas escatológicas ou de sangue que possam te deixar com nojo. O terror é muito mais psicológico que visual - e ai é que mora o problema do filme: ele não consegue nos prender nessa teia de drama psicológico - pelo menos não prendeu a mim.

O que vou falar agora é spoiler, mas preciso falar para poder elogiar o filme:


Um dos temas que me agradou em "Salmo 21" é que ele fala, na verdade, de um padre pedófilo (como tantos que, infelizmente, tem por ai) que abusou do próprio filho e de outras crianças. O filme mostra o quanto esse tipo de trauma pode acabar com a vida de uma pessoa, do quanto que algumas crianças sofrem caladas por medo ou por realmente não entenderem absolutamente o que está acontecendo - afinal, é um padre, uma pessoa de Deus!

Outra coisa é o título do filme: Salmo 21.
Algumas pessoas devem saber que depois do Salmo 9 há uma pequena confusão. Alguns chamam o Salmo 10 de 9B e, portanto, eles tem duas numerações. Ou seja, o Salmo 21 pode ser o 21 (20) ou o 22 (21). No filme eles lem o 21 (20):

Dá uma olhada:
"(...) Tua mão alcançará teus inimigos todos, tua direita encontrará teus adversários.
Ateia fogo neles como a um forno, no dia em que te manifestares.
Javé os engolirá com sua ira, e um fogo os devorará.
Extirparás da terra sua posteridade, e sua descendência dentre os homens.
Ainda que pretendam o mal contra ti e façam planos, nada irão conseguir.
pois tu os afugentarás, mirando a face deles com teu arco (...)"

Meio pesado né? Uma coisa meio: "vai lá e se vingue do seu inimigo" - que é, de certa forma, o que acontece no filme.

O interessante é que se formos ver o salmo 21 mesmo (que é o 22):

"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Apesar de meus gritos, minha prece não te alcança!
De dia eu grito, meu Deus, e não me respondes. Grito de noite, e não fazes caso de mim! (...)
Não fiques longe de mim, que a angústia está perto, e não há ninguém para me socorrer (...)"

e por ai vai!


O fato é que esses dois salmos estão presentes no filme. O primeiro pela vingança e o segundo pela sensação de abandono de Henrik.
O final tem um desabafo (que eu achei sensacional - a melhor parte do filme) sobre a hipocrisia da igreja (e o que ele fala não é só pros luteranos, mas pra todos os cristãos). Quando ele entende tudo aquilo consegue finalmente viver em paz.

Bom, eu não conheço super bem a igreja da Suécia. Sei que recentemente eles "causaram" por ordenar a primeira episcopisa lésbica! Além disso, eles celebram casamentos homossexuais (para desespero dos cristãos mais tradicionais). Não sei dizer se o que é comentado no filme (sobre o conceito de inferno ter sido abolido da igreja sueca em 1983) é verdadeiro...

Eu não classificaria esse filme como terror. Acho que muita gente que, como eu, é amante do gênero, vai se decepcionar... Mas ainda assim eu acho que é um filme interessante. Não é muito bom, mas também não é ruim. Vale o tempo!

Hoje descobri que dá até pra ver uma versão dublada no youtube.