quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Orphan (com spoiler)


Assisti esses dias o filme “A Órfã”, do espanhol Jaume Collet-Serra (diretor do dispensável remake “A casa de cera”). Apesar da nacionalidade do diretor este é um filme holliwoodyano (bem como seu anterior já citado). Isso é um detalhe que parece pequeno, mas não é. Mais a frente, no texto, falarei mais sobre isso.
Começo dizendo que gostei do filme. É uma boa opção para aqueles que gostam de filmes de suspense e dramas familiares. Mas pra mim e minha humilde opinião, não se trata de um filme de terror como é anunciado.
As primeiras cenas até nos fazem pensar que será um filme de terror. Sangue, imagens que se tornam difusas... Mas não. Kate é uma mulher que perdeu há pouco tempo seu bebê que ainda estava na barriga, passando por uma situação traumática, já que teve que carregar a criança morta em seu ventre. Depois de discutir com seu marido, resolver adotar uma criança para que o amor que tinham para dar a essa filha fosse dado à outra criança (detalhe, eles já são pais de duas crianças: Max, uma garotinha surda (ah, a menininha que faz a Maxine é realmente surda) e Daniel, um garoto pré-adolescente. Uma questão que me incomodou no filme (achei uma falha no roteiro) é o fato deles irem ao orfanato onde encontraram Esther apenas uma vez (ok, podem ter ido mais vezes e no filme mostraram apenas uma vez) e pior, como assim... eles tem dois filhos, vão adotar uma criança grande (Esther tem 9 anos) e não levaram as crianças para conhecê-la! Não fizeram uma adaptação e já foram levando uma criança desconhecida pra casa (não tinham histórico da garota no orfanato... sabiam apenas que a família que tinha adotado a menina anteriormente tinha morrido em um incêndio e que ela era russa).
Levam a menininha fofa pra casa. Ela é super estranha, mas os novos pais acham isso lindo no começo da história. Não há nada errado em ser diferente, dizem. Out ra coisa meio boba no filme é que a desconfiança em relação à menina começa quando ela vê os “pais” transando na cozinha e Kate vai conversar com ela, toda jeitosa, envergonhada, com a intenção de explicar a Esther que os adultos, quando se amam, fazem isso! E ela responde que sabe... que os adultos “fodem”. Kate fica assustada com o palavrão usado por ela, como se nenhuma criança falasse palavrão... Isso faz com que ela queira saber a origem da menina... É a primeira vez que ela sugere que deveriam saber mais do passado da menina... Hello! Eles a adotaram... deveriam ter feito isso antes! Também tem uma cena (não me lembro agora se é antes ou depois da transa dos pais, acho que antes), em que Dany está atirando em bonequinhos de plástico e alvos, com uma pistola de paintboll e, vê uma pompa. Ele mira, atira e acerta. O pássaro cai machucado. Ai aparece Esther (e, o que pra alguns pode parecer uma mostra de sua maldade me pareceu mostra de bondade – porque eu acho que ela fez a coisa certa – eu acredito que teria feito a mesma coisa). Ela vê o animal machucado e recrimina Dany. Pega uma pedra e oferece para que ele mate o bichinho pra acabar com o sofrimento dele, que morreria ali de qualquer maneira naquela situação. Dany não tem coragem de fazê-lo, então a menina pega a pedra e, com a maior naturalidade esmaga o pássaro. Está certo, a frieza com que ela faz aquilo é um sinal de que ela é má... mas não sua atitude. Repito, concordo com a atitude dela. Acho que Dany foi mais malvado ao atirar no pássaro.
Meu texto continuará cheio de spoiler, então, se você não viu o filme ou se não quer saber mais, pare por aqui. (Darei outra chance de parar antes de revelar o final do filme).
Há várias outras cenas cheias de maldades da menininha fofa. O interessante é que a mãe começa a desconfiar e o pai não – o que gera uma instabilidade na família (bom... se é que existia uma estabilidade antes de Esther! Pelo que parece o casamento deles já não estava 100%).
Algumas cenas me lembraram muito o filme “Anjo Malvado”, sobretudo a que ela empurra uma menina do alto de um escorregador num parquinho. Esther consegue cativar as pessoas, mas Kate e Dany não se deixam levar pelos seus encantos. Max no começo se encanta, mas quando percebe que a irmã faz maldades, esconde suas maldades por medo. Tadinha dessa menina. Ela ajuda Esther a matar a freira (uau, que cena foi aquela!!! Digna dos mais frios vilões do cinema. A menininha arrebenta! Bom, isso me faz pensar em outras coisas, como por exemplo, como eles fizeram para gravar o filme... o que fizeram pra essa menina! Coitada da criança!). Ah, também tem uma cena de roleta russa que dá um frio na barriga... e muito dó da menina surda.
Resumindo bem a história, Esther mostra quem é: uma maluca psicopata. Adoro a cena em que ela conversa com o pai e fala que a mãe não lhe ama tanto, já que deve ser difícil amar uma criança adotada tanto quanto um filho de verdade. Ai ele diz para que ela agrade a mãe. Nooossa... cena ótima! Ela chega toda fofa escondendo algo atrás de si e diz que tem uma surpresa pra mamãe! A surpresa é um bouquet de rosas... mas não são rosas comuns. Ela tinha cortado a roseira que Kate plantou quando seu bebê morreu. Nela jogou as cinzas da criança e cuidava daquelas rosas com muito amor – pq seriam uma maneira da filha estar ali, viva, ao lado deles. Esther sabia disso. Fez de propósito. Kate a puxa pelo braço com força... Pronto, a fofíssima tem uma carta na manga. Quando todos já estão dormindo vai até um quartinho onde o pai coloca ferramentas e, com muito sangue frio, quebra o próprio braço. Volta pro quarto e começa a chorar chamando pelo pai, dizendo que seu braço ainda doía. Claro que ele percebe que há algo errado. Vão para o hospital: a mãe malvada quebrou o braço da pobre menina. Ai os problemas todos começam a cair sobre a mãe, como se ela fosse a culpada por tudo. Ela que não estava preparada para adotar uma criança. Ela que não era uma boa mãe.
Apesar de Maxine saber que tinha sido Esther quem soltou o freio de mão que fez com que o carro andasse e quase a matasse, não teve coragem de contar... e a culpa: da mãe que não puxou o freio de mão. Quando Dany vai até a casa da árvore em busca das provas contra Esther ela o pega, o tranca lá dentro e ateia fogo no lugar – ele consegue escapar mas cai e fica bem machucado. Ninguém culpa Esther. Max viu e sabia que era ela, mas não tinha coragem de falar nada. Todos vão ao hospital. Lá, claro, a fofa da Esther tenta matar o menino, sufocando-o com um travesseiro. Max tenta alertar os pais, mas chega tarde. O menino já estava morrendo – teve uma parada cardíaca (ok... filme hollywoodyano, lembra?! Nada de matar criancinhas! O menino não morre), mas a mãe (malvada mãe! Pensam todos) sabe que foi Esther e dá um tapão em seu rosto... daqueles bem dados! Todos ficam atordoados e ela (Kate) é sedada e também fica internada no hospital. O pai e a menina, então, voltam pra casa.
Acontece que, enquanto acontecia a cena de Dany tentando encontrar as pistas pra desmascarar Esther, a mãe está buscando pistas sobre a menina. Kate tinha encontrado a Bíblia que ela usava (e não desgrudava) e lá viu o nome de um instituto. Procura este instituto na internet e liga pra lá. Descobre que não se trata de um orfanato, mas de um hospital psiquiátrico. Manda pra eles a foto da menina e seus dados pra tentar descobrir algo sobre ela. Quando está no hospital seu celular toca e eram de lá do tal instituto... e ai fazem a nefasta revelação (MEGA SPOILER!) Esther não é uma garotinha de 9 anos. Ela tem 33 anos e sofre de uma doença rara que faz com que o corpo não se desenvolva. Por isso ela finge ter eternos 9 anos. Contam também que ela é altamente perigosa e que lá, várias vezes era presa em camisas de força (que a deixaram marcas no corpo – ahan... por isso ela sempre usava aquelas faixas horríveis no pescoço e nos punhos)... enquanto isso acontece, lá na casa, a menina se veste de maneira estranha (ah... nesse momento ainda não sabemos que ela não é uma criança). Coloca um vestido sexy que tinha feito customizando uma roupa de Kate... pinta os olhos e passa um mega batom vermelho. O pai, agoniado com tudo, bebeu várias taças de vinho e estava meio grogue. Ai ela chega e se assanha pro pai. Pronto, vai rolar uma cena de pedofilia, você pensa! Mas não... estamos em Hollywoody, não se esqueça... Ele fica bravo e sua ficha começa a cair (até que enfim). É então que temos a tal revelação: ela não é uma criança. Aí vemos a menina se mostrar... Enquanto o pai descobre seus desenhos sombrios feitos com tinta que só é vista com luz negra, Esther tira seu disfarce de criança... os dentes postiços que encobrem uma dentição meio podre, de uma mulher de mais de trinta e não de uma menina de 9 anos – ahá... é por isso que ela não queria ir ao dentista (e o pai besta concordou sem relutar!!! Ai que pai babaca!!!), pequenos seios... Incrível que sua feição muda muito... Parece outra pessoa. Essa é Esther, a verdadeira Esther (quer dizer Leena – esse é seu nome verdadeiro). Enquanto Kate foge desesperada do hospital em direção a casa – já que sabia que o marido corria perigo, ela o mata... uau... outra cena em que a menina se mostra cruel. Depois de você gritar pra si mesmo mais de mil vezes: liga pro 911 sua besta, Kate liga pra polícia. Quando chega na casa encontra Esther. A coitadinha da Max consegue escapar por pouco. Ai é claro tem a cena final, com recursos bem tradicionais desse tipo de cinema: claro que, quando a polícia chega no local o corpo de Esther não está lá... Ela tinha levantado como qualquer bom vilão de filmes de terror. E, é claro foi onde estavam as duas... Susto e uma luta entre as duas mulheres... caem no lago congelado e (mega previsível) ele racha e as duas caem na água gelada. A última cena de Esther também me pareceu “Anjo Malvado”... só que não se tratava de um abismo, mas de um lago... Esther olha pra ela, tentando fazer cara de piedade e diz “Mamãe” e Kate dá voz a nossa vontade e fala que não é a “porra” da mãe dela e lhe dá uma bicuda na cara! Esther cai... morre.
Lembrem-se que nenhuma criança morre no filme... Afinal, Esther não conta.
Apesar de ter criticado algumas partes do filme, gostei dele (como já disse no começo do texto). Não é um filme excelente, mas é muito bacana. Vale a pena gastar duas horas de sua vida com ele (sobretudo pela atuação das crianças).
Fico pensando o que será que o diretor fez com elas? Um dos meus filmes de terror preferidos é “O Iluminado” (filme que também tem uma criança, um menino incrível). Num documentário sobre o Kubrick eu vi que ele só soube que tinha feito um filme de terror quando o filme estreou. Usaram vários jogos pra conseguir os efeitos... e, vocês devem concordar comigo... ele manda muito bem! Bom, espero que as crianças desse filme tenham passado por algo parecido.