quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Cara da Jaqueta Vermelha

Essa é uma história real; mudei os nomes para preservar as pessoas envolvidas.

Lá na minha cidade tem uma estrada em que muitas pessoas já morreram. O estranho é que o lugar onde a maioria dos acidentes aconteceu é uma reta bem grande, com boa visão. Ali já se foram vários conhecidos, entre eles, o pai de um grande amigo meu.
Na direção da cidade, tem um ponto de ônibus desses cobertos, com um banco e do lado oposto, uma mangueira (a árvore, ok!?). Sempre gostei de olhar pra essa árvore e sempre tive vontade de “escalá-la”, mas nunca consegui parar ali para fazer isso.
Havia uma história de que, há alguns anos, um jovem morreu ali. Contam que ele estava atravessando a pista e foi atropelado. Seu corpo foi jogado para perto da mangueira e que sua alma ficava vagando ali em busca de outras. Contavam que ele sempre ficava sentado ali, no ponto de ônibus, com uma jaqueta vermelha. Ele pedia carona e, quando o motorista estava para parar para dar carona, perdia o controle do carro e batia na mangueira. Eu me perguntava sempre: como as pessoas são idiotas! Se as pessoas morriam, quem teria contado a história? Era obvio que era mais uma dessas lendas locais.
Um dia eu fui para Campinas com uns amigos e no caminho de volta, resolvi contar essa história: a do “cara da jaqueta vermelha!”. Um dos amigos que estava no carro ficou com muito medo e comentou que se visse um cara de jaqueta vermelha no ponto de ônibus teria um ataque cardíaco. O motorista riu dele e da minha história: “Ok, só fantasmas usam jaquetas vermelhas! Olhem: o Fernando está de jaqueta vermelha... e se fosse ele no ponto?”. Seguimos viagem. Quando estávamos próximos do local, o carro do Gustavo começou a falhar. Confesso que meu coração começou a bater mais rápido. Todos nós questionamos Gustavo sobre a veracidade da falha, mas ele disse que o carro realmente estava falhando. Mais alguns metros, quando já era possível avistar a mangueira, o carro pifou. Gustavo estava calmo e saiu do carro para verificar o motor. Nós três que estávamos dentro estávamos assustados – até eu que tinha contado a história do rapaz da jaqueta vermelha. Eis que vemos um vulto se aproximando de Gustavo. Saímos rapidamente do carro para ver quem era e o que queria... se queria ajudar ou assaltar, ou assombrar... sei lá!
“Precisam de ajuda? Sou mecânico, talvez saiba dar um jeito! Se eu conseguir fazer funcionar vocês me dão uma carona até a cidade?”
“Claro!” Gustavo respondeu sem pensar. Quando os dois olhavam o motor do carro eu me dei conta: o cara usava uma jaqueta vermelha. E sim, estávamos parados ao lado do ponto de ônibus da história. Comecei a suar frio. Fernando, que já estava com medo quando contei a história estava tremendo. A namorada de Gustavo foi até ele e pediu para que ele viesse até nós por um instante. O rapaz continuou mexendo no carro enquanto Gustavo foi até nós. “É um fantasma, Gustavo!”, “Temos que ir embora!”, “Nada de dar carona pra ele!!!”. Ficamos assustados. Gustavo pediu para que entrássemos no carro porque ele estava envergonhado de nossa reação. “Coitado do moço. Só quer ajudar! Como vocês são bestas!” e foi novamente pra frente do carro observar o rapaz de jaqueta vermelha.
O carro funcionou. Quando percebeu que Gustavo o chamava pra dentro, pra lhe dar carona, sua namorada saltou para o banco de trás com a gente. Estávamos todos tensos. O rapaz foi o percurso todo calado. O trajeto levou só alguns minutos, mas para nós, que estávamos tensos, os minutos pareceram durar horas. Paramos no posto de gasolina da entrada da cidade e o rapaz saiu do carro dizendo “Muito obrigado!”.
Fomos até a lojinha de conveniência e comentamos com o frentista se ele conhecia o rapaz que veio com a gente, o de jaqueta vermelha. Ele disse: “Ué, é o Fernando, amigo de vocês”. “O outro, o que estava no banco da frente!” E ele respondeu que não tinha ninguém no banco da frente. Fernando começou a chorar desesperado, a namorada de Gustavo também. Fui até o dono do posto e perguntei se ele já tinha ouvido falar da história do “cara da jaqueta vermelha”... ele riu e disse que sim. Me chamou de louca.
Começamos a correr atrás de nomes de pessoas que tinham morrido ali na estrada, se tinha algum moço jovem que era mecânico e tinha uma jaqueta vermelha. Dito e feito. Era o filho do dono de uma das oficinas mecânicas da cidade. Vimos uma foto sua e, para surpresa geral, era o mesmo rapaz da estrada.
Vocês podem não acreditar nessa história, mas realmente aconteceu. Éramos quatro e, os quatro viram o rapaz. Fico me perguntando por que ele nos ajudou? Por que não fez com que nosso carro batesse na mangueira?
O fato é que depois desse acontecimento, nunca mais duvidei de nenhuma dessas histórias. Outro fato é que depois disso, ninguém mais morreu “espatifado” na mangueira.

Um comentário:

João Marcelo disse...

Nossa. Que Tenso '-'
Acho que o cara da jaqueta leu o seu blog, sei lá !