quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A pele que habito

Estive algum tempo longe do blog, vi vários filmes desde o último post e resolvi aproveitar para colocar as coisas "em dia".
Resolvi começar pelo esperado (por mim, pelo menos) "La piel que habito", de meu amado Pedro Almodóvar.


Este não é exatamente um filme de terror, mas assim como "Cisne Negro" trata de temas que levam ao medo.
Este é o último filme do (amado) cineasta espanhol Pedro Almodóvar (de "Má Educação", "Volver", "Fale com ela", "Tudo sobre minha mãe" entre outros). É a primeira vez que o cineasta caminha por caminhos mais sombrios. O drama familiar, a dor, a morte... sempre estiveram de uma forma ou outra presentes em seus filmes, mas agora ele desce mais ao fundo do abismo do medo.


Inspirado no romance francês "Tarantula", de Thierry Jonquet (de 1984), esse é um filme espetacular.
"A pele que habito" conta a história do cirurgião plástico Robert Ledgard (Antonio Bandeiras), obstinado a construir uma pele pefeita, capaz de suportar a dor e, sobretudo o fogo (que tinha acabado com a vida de sua esposa anos antes). O médico realiza seus experimentos em uma moça chamada Vera, que vive em sua casa presa a um quarto. A princípio nos parece que o filme trata apenas de um "Dr. Frankenstein" moderno que faz suas pesquisas sem se preocupar com a ética médica. Mas as coisas são muito, muito mais complexas.


A história vai indo e vindo no tempo e vamos conhecendo outros personagens do drama. Descobrimos o que aconteceu a esposa do Dr. Ledgard e também à sua filha. Descobrimos quem é Vera e porque ela está naquela casa... descobrimos que Vera é "a cara" da esposa morta do médico, e que isso não é uma coincidência... que Marília, a empregada é bem mais que isso... e que apesar de passear por um novo estilo cinematográfico, Almodóvar não deixa de discutir a sexualidade, os segredos, os jogos de poder, o kitsch, os tabus sociais...

Almodóvar está um pouco menos colorido, mais ainda assim usa cores fortes (o que podemos dizer do sangue super vermelho?)... A mansão em que vive o médico é repleta de obras de arte (todas com cores quentes, intensas) - incluindo uma obra da brasileira Tarsila do Amaral ("Paisagem com ponte")


Não sou uma expert no assunto, mas acho que o cineasta espanhol se inspirou muito em Hitchcook para fazer este filme (sobretudo em "Um corpo que cai", de 1959, que merece um post aqui no blog) e também no filme francês "Olhos sem rosto", de 1960 (outro que precisa um post) de Georges Franju. São filmes que falam de obsessões... nos três filmes, o personagem principal são capazes de tudo (tudo mesmo) para recriar a alguma maneira o objeto (uma mulher) dos seus desejos. Bom, não coloquei "objeto" de propósito. Mas não vejo semelhanças só no tema, mas no como as ações cênicas são desenvolvidas.

Enfim, este é um filme incrível. Eu que sou fã de Almodóvar digo que foi um alívio delicioso - já que não gostei do último antes desse ("Los abrazos rotos").

Não quero contar a história em detalhes para guardar o suspense.

Ah, pra quem gosta de filmes de terror cheio de sangue e mutilações, este não é um bom filme. Mas para quem gosta de suspense, tortura (psicológica, sobretudo) e até crueldade, é uma excelente opção!

E inclusive, escrever isso aqui me deu vontade de rever o filme!

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