Este não é
exatamente um filme de terror, mas um filme de tribunal.
“O
exorcismo de Emily Rose” foi baseado em uma história real, o caso de Anneliese
Michel, uma alemã que em 1976, aos 24 anos, morreu (oficialmente) de
desidratação e desnutrição. Na verdade, ninguém sabe ao certo o que realmente
aconteceu, se foi um caso espiritual ou psiquiátrico.
No caso
original, apesar dos diagnósticos médicos apontarem epilepsia associada à esquizofrenia,
a família – que era muito religiosa – escolheu seguir apenas com os exorcismos.
Depois de sua morte, os dois padres que fizeram os exorcismos e seus pais foram
condenados por negligência resultante em morte (homicídio culposo e omissão de
socorro).
Essas são as fotos de antes de depois de Anneliese Michel.
Além de “O
exorcismo de Emily Rose”, o caso de Annelise também originou um outro filme: “Requiem”,
uma produção alemã que eu não vi.
No filme de
2005, dirigido por Scott Derrockson, temos algumas diferenças em relação à
história real, mas o sentido de tudo permanece o mesmo.
A jovem
Emily morre depois de um ritual de exorcismo e o padre Morre, que cuidou dela,
é preso por sua morte. Ao evitar um acordo com a promotoria, foi levado a
julgamento. Ele alegava não temer a prisão, mas queria ter a chance de contar a
todos o que realmente tinha acontecido à Emily.
O promotor
escolhido para o caso era um evangélico muito ativo na comunidade. Era
catequista, participava do coro e se dizia um homem de fé. Já a advogada da
defesa era uma mulher que tinha suas dúvidas e se considerava agnóstica.
A história
de Emily é contada pelas testemunhas do julgamento. Efeito cinematográfico
interessante, que acaba sendo quase que um expediente épico (coisa de teatro,
desenvolvida por Bertolt Brecht) – somos envolvidos por uma atmosfera de
terror, e, quando isso começa a se tornar assustador, voltamos ao tempo
presente, ao tribunal.
Claro que o
terror não fica somente nos flash backs da história de Emily, já que a advogada
também acaba sendo atormentada por algo que ela desconhece.
Estaria
Emily possuída pelo demônio ou realmente sofria de alguma psicose?
No
tribunal, o médico da universidade afirmou que viu Emily e que um eletroencefalograma
revelou um possível foco epilético no lobo temporal esquerdo da jovem. Que
tinha prescrito um remédio chamado “Gambutrol” (um medicamento que não existe,
que seria usado para epilepsia) e que teria pedido para que a jovem continuasse
o tratamento com mais consultas e exames, mas ela não teria voltado alegando
que seu problema era espiritual, e que seu padre era da mesma opinião.
Teria sido
a falta do remédio, que Emily parou de tomar, que gerou tais alucinações que a
levaram a morte? Ou realmente ela estaria possuída pelo demônio?
No filme,
suas crises começaram quando ela foi para a universidade. Estava em uma cidade
grande, cercada por desconhecidos, descobrindo um mundo grande. Será que não
teriam sido esses fatores que desencadearam esses surtos psicóticos? Mas se
fosse isso, eles não melhorariam quando ela voltou pra casa dos pais? Ou será
que eles melhorariam se ela tivesse continuado com os medicamentos? Será que,
como alegou a defesa, o medicamento ao invés de ajuda-la foi o que fez com que
o exorcismo não desse certo e, portanto, o que a levou a morte?
Sei por experiência
própria que medicamentos psiquiátricos afetam muito a nossa mente e, quando
interrompemos o seu uso de modo brusco, eles geram efeitos colaterais muito
ruins. Acrescente a isso o fato de Emily ser extremamente cristã e realmente
acreditar em forças demoníacas.
Em uma
crise de pânico, por exemplo, sentimos estar morrendo. Tudo dói. Realmente
parece que coisas sobrenaturais estão acontecendo.
Mas ai eu
me questiono (e também a você): será que realmente é tudo criado por um cérebro
doente ou será que realmente essas coisas sobrenaturais existem?
Tive uma
criação cristã, aprendi desde bem cedo que Deus existe e, consequentemente,
também o demônio. Mas ao longo dos anos fui me tornando um pouco cética.
Uma das
coisas que eu mais gosto nesse filme é tentar nos mostrar os dois lados.
Poderia ser o demônio, mas também poderia não ser. E será que seguir suas
crenças, realmente pensando estar fazendo a coisa certa é um crime?
A advogada
que tinha acabado de defender um criminoso que foi absolvido por sua incrível
defesa, e que descobre que ele era realmente um assassino começa a questionar o
valor de seus atos. Começa a questionar o quanto ela errou ao defende-lo. E
dentro desses questionamentos, começa a refletir sobre o casso do padre Moore.
Mesmo tendo sido culpado pela morte de Emily por negligência, já que teria sido
ele quem a aconselhou a não tomar mais os medicamentos, ele teria feito por
mal? Será que realmente não valeria a pena defender um homem bom (para se
redimir, talvez)? Toda essa reflexão a faz ver coisas estranhas. Seriam
manifestações demoníacas ou ela estaria paranoica? Estaria impressionada com a
história de Emily e com o sentimento de culpa por ter tirado da prisão um
assassino?
Outra
questão que o julgamento traz é o fazer caso o paciente recuse o tratamento. Um
médico chamado pela promotoria diz que a jovem deveria ter sido levada a força para
que fosse submetida a um tratamento mais severo, que deveria ser forçada a se
alimentar. Mas será que isso é correto? Será que
realmente devemos forçar alguém a receber um tratamento que não deseja?
No filme,
somos levados a crer que Emily realmente estava possuída. Que o demônio existe
e que ele pode estar conosco a todo momento. Até mesmo a advogada, que não
acreditava, começa a pensar na possibilidade disso tudo ser real. Afinal, ela
mesmo vivenciou algumas coisas no mínimo estranhas.
Acho esse
um ótimo filme de tribunal. Bem interessante para pensarmos em como os fatos
são relativos e como é realmente estreita a linha que separa o real do espiritual.
Voltando ao
caso real que originou o filme: nunca saberemos se Anneliese realmente foi possuída
ou se sofria de um grave distúrbio psicológico.
Gosto do
final desse filme, penso que teria feito o mesmo que os cidadãos do júri.
Mas esse
tipo de filme me faz refletir muito sobre os poderes da mente humana e se há,
de fato, forças superiores que conseguem interferir no nosso destino.
Ah, para quem
gosta de filmes de possessão, aviso que não é exatamente um filme assustador,
mas os (poucos) momentos que vemos Emily (numa ótima performance de Jennifer
Carpenter) possuída são ótimos!