terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Esses dias, enfim consegui ver o tão comentado Cisne Negro (Black Swan). Li algumas críticas positivas e outras negativas, o que me deixou ainda mais curiosa a respeito.




Cisne Negro nos coloca no universo do balé, mostrando que este não é exatamente um lugar de glamour ou beleza somente, como muitos imaginamos. O filme dirigido por Darren Aronofsky conta a história de Nina, uma bailarina veterana de 28 anos que sempre sonhou em conseguir um lugar de destaque na companhia de dança. Meiga, doce e perfeccionista, Nina é uma bailarina dedicada que vive para o balé. Sua chance chega quando o diretor da companhia resolve que a primeira bailarina deveria ser substituída por já estar “velha”. Precisavam de sangue novo para começar a nova temporada de clássicos, para quem sabe, assim, atrair o público de volta ao teatro. A primeira obra da nova temporada é “O Lago dos Cisnes”, do compositor russo Tchaikovsky. Thomas, o diretor, quer que essa nova primeira bailarina interprete os dois personagens principais da obra, o cisne branco e o cisne negro, opostos não só nas cores mas na personalidade. Nina é perfeita para o papel de cisne branco, mas falta-lhe força, sensualidade e liberdade para o cisne negro. Ainda assim, é a escolhida e precisa a todo custo encontrar esse seu outro lado para manter-se no tão sonhado posto. Acontece que chega à companhia Lily, uma bailarina vinda de San Francisco que é o oposto de Nina e, portanto, perfeita para o papel de cisne negro.




A obsessão de Nina por perfeição, aliada ao medo de perder o papel para Lily, deixam a bailarina ainda mais perturbada. Nina já era uma garota com problemas – sua mãe (ex-bailarina frustrada por ter abandonado a carreira por causa de sua gravidez precoce) a trata como uma criança e, de certa forma, transfere para a filha tudo o que ela queria mas não pode ser. Ela também é bulímica, preocupadíssima com a forma e de nervosismo, acaba  por se auto-flagelar com as unhas inconscientemente... Nina fala baixo, só se veste de tons claros, é magra demais, frágil demais, se cobra demais.

E a história é essa. A luta dessa bailarina em busca da perfeição, em busca de seu cisne negro.
Este é um filme muito bonito. Imagens bonitas, atrizes bonitas, luz bonita, trilha sonora bonita, figurinos e maquiagens bonitas. A fragilidade de Nina, lindamente interpretada por Natalie Portman (que, segundo consta, fez um ano intensivo de balé e emagreceu vários quilos para o papel) dá o tom ao filme que, pra algumas pessoas, é parado. Ai eu me pergunto: como um filme que fala da fragilidade humana, que tem uma personagem frágil e tão doce que praticamente não fala, mas sussurra pode ter ritmo acelerado. Creio, inclusive, que se tivesse estragaria. Outra reclamação que ouvi foi que o filme tem cenas fortes demais, tanto de sexo como de sangue. Bom, o filme realmente tem cenas de sexo (incluindo a tão comentada cena lésbica entre Nina e Lily) mas todas elas são absolutamente necessárias, nenhuma é em vão, nenhuma foi jogada ali apenas para aumentar a audiência. Claro que muito marmanjo foi ao cinema por isso... assim como, provavelmente muita gente foi ao cinema para ver um filme sobre balé, com lindas bailarinas dançando lindamente e também ficou decepcionado. Sobre o sangue, realmente pode incomodar algumas pessoas, algumas cenas chegam a causar mal estar. Mas que fique claro, Cisne Negro não é um filme “de balé”, não é um filme de terror, não é um filme de sexo... é um drama psicológico pesado, ambientado no universo do balé com visões, deformações, sangue, suor e sexo.




A maioria das pessoas tem o estereótipo do balé e não conhece de fato esse universo que foi apresentado em Cisne Negro. Por se tratar de uma obra de arte e por focar nos problemas de Nina, muitos podem achar exagerado... Mas não é. Horas e mais horas de ensaio, repetições, calos, bolhas, suor e sangue nos pés fazem parte da vida de toda bailarina de uma grande companhia. Acrescente a isso o fato dessa bailarina buscar a perfeição: mais ensaios, mais repetições, ainda mais bolhas, calos, suor e sangue. Sobre esse universo do balé achei sensacional, por exemplo, o modo como foram mostrados os ensaios exaustivos, os barulhos das sapatilhas no assoalho, a preparação da sapatilha (meu marido achou super estranho elas serem “estragadas”...


Um elemento muito importante na narrativa que não posso deixar de comentar é o espelho. Sejam os espelhos usados nas aulas de balé, sejam os espelhos da casa de Nina, sejam os reflexos das janelas do metrô, seja o derradeiro espelho do camarim da primeira bailarina.
Reflexos sombrios, reflexos que se separam do corpo... Tão poético, tão assustador. As cenas que Nina se olha no espelho e seu reflexo está um pouco atrasado em relação aos seus movimentos são sensacionais! Fico inconformada em saber que algumas pessoas não repararam nisso. A ideia dos espelhos é genial. Não é nova, mas ilustra perfeitamente a perturbação de Nina, sua busca por seu oposto. O final (e o espelho que está relacionado diretamente a ele) é apoteótico. Freud ficaria em estase se estivesse vivo! Hehehehehe!!!


As “Ninas” de preto que a doce Nina pensava encontrar pelas ruas, nos trens, nos reflexos dos espelhos se ligam à metamorfose que, aos poucos, ela vai sofrendo em busca do cisne negro. Sua loucura a faz criar uma realidade paralela na qual já não consegue diferenciar o que é ou não real. Isso a conduz à sua meta, mas também à sua ruína.

É difícil escrever sobre esse filme, sobretudo sem cair naquilo que já foi escrito... Sem contar o final...


Pra mim esse é um dos melhores filmes que eu já vi (o que torna ainda mais difícil escrever sobre ele). Tudo o que eu tenho a dizer é que é imperdível.


Provavelmente não vai ganhar o Oscar de melhor filme (o que eu acho uma pena – mas já estou acostumada: eles não premiam filmes de ARTE), mas creio que, ao menos, Natalie Portman levará a estatueta de melhor atriz.

3 comentários:

Lari Barlati disse...

Taci, o filme é realmente incrível! Confesso que me deu muita agonia da primeira vez que assisti, mas então assisti de novo, e não me arrependo. Acredito que é um filme que não só mostra um drama psicológico, mas também um drama humano. Afinal, todos nós vestimos máscaras de Ninas e Lilys em certos momentos da vida, e naturalmente, somos obrigados a enfrentar os 'efeitos colaterais' inevitáveis com esse uso. Mas acho que no fundo no fundo, toda essa dramaticidade faz parte da arte de viver.

matheus rech disse...

Poxa vida, achei muito interessante o jeito com que você lidou com o filme!
Realmente, após ter lido sua resenha eu mudei o jeito que eu pensava a respeito do filme.
Também achei muito interessante você ter reparado no fato de que os espelhos mostravam o que Nina queria ser, seu oposto.
É muito bom achar bloggs que possuam bom conteúdo!

Anônimo disse...

Bom,eu estava muito triste na tarde de ontem,perâmbulando pelo shopping e liguei pra uma amiga minha,sendo é que ela mora em outro estado e estava realmente querendo desabafar,nós rimos,falamos bobagens e eu perguntei o que ela ia fazer a noite,e ela me disse que ia ao cinema,daí eu fiz uma brincadeira :"Ham,vai assistir a surfistinha( Bruna Surfistinha),e ela riu e falou que não tinha descido tanto o seu nível cultural,caímos na risada e continuou falando que ia assstir os filmes do Oscar,eu lembrei que queria muito assistir o gato do Colin Firth,no seu aclamado O Discurso do Rei,mas chegando na bilheteria só havia ainda o Cisne Negro,um infantil e a Bruna rsrs,comprei o ingresso na intenção de ver a linda Natalie,da qual sou admiradora,pois ela interepetrou uma Padmé linda demais!Comprei uma pipoca e um refrigerante e sentei-me,ao apagar as luzes pensei: Se realmente fõr um drama psicológico,do jeito que eu estou aqui,é capaz de eu chorar muito e vierem me acudir rsrsrs..
Fim do filme,caí na tentação de aplaudir e não me ignorei,bati palma e fui acompanhada!Que filme,que história,que atores,que músicas..que Nina !A nina que havia levado um fora do namorado,havia dado uma topada ao sair do carro o qual arrancou o tampão do dedão e eu me vi nos pés de Nina,com aquele sangue no chão e minha carne exposta...
E meu cisne após essa linda sessão de filme,vai voar ,e aí tchau Nina frágil,meiga,sensível...
-
Parabéns à você que detalhou tão bem o que eu senti.