Esses dias, enfim consegui ver o tão comentado Cisne Negro (Black Swan). Li algumas críticas positivas e outras negativas, o que me deixou ainda mais curiosa a respeito.
Cisne Negro nos coloca no universo do balé, mostrando que este não é exatamente um lugar de glamour ou beleza somente, como muitos imaginamos. O filme dirigido por Darren Aronofsky conta a história de Nina, uma bailarina veterana de 28 anos que sempre sonhou em conseguir um lugar de destaque na companhia de dança. Meiga, doce e perfeccionista, Nina é uma bailarina dedicada que vive para o balé. Sua chance chega quando o diretor da companhia resolve que a primeira bailarina deveria ser substituída por já estar “velha”. Precisavam de sangue novo para começar a nova temporada de clássicos, para quem sabe, assim, atrair o público de volta ao teatro. A primeira obra da nova temporada é “O Lago dos Cisnes”, do compositor russo Tchaikovsky. Thomas, o diretor, quer que essa nova primeira bailarina interprete os dois personagens principais da obra, o cisne branco e o cisne negro, opostos não só nas cores mas na personalidade. Nina é perfeita para o papel de cisne branco, mas falta-lhe força, sensualidade e liberdade para o cisne negro. Ainda assim, é a escolhida e precisa a todo custo encontrar esse seu outro lado para manter-se no tão sonhado posto. Acontece que chega à companhia Lily, uma bailarina vinda de San Francisco que é o oposto de Nina e, portanto, perfeita para o papel de cisne negro.
A obsessão de Nina por perfeição, aliada ao medo de perder o papel para Lily, deixam a bailarina ainda mais perturbada. Nina já era uma garota com problemas – sua mãe (ex-bailarina frustrada por ter abandonado a carreira por causa de sua gravidez precoce) a trata como uma criança e, de certa forma, transfere para a filha tudo o que ela queria mas não pode ser. Ela também é bulímica, preocupadíssima com a forma e de nervosismo, acaba por se auto-flagelar com as unhas inconscientemente... Nina fala baixo, só se veste de tons claros, é magra demais, frágil demais, se cobra demais.
E a história é essa. A luta dessa bailarina em busca da perfeição, em busca de seu cisne negro.
Este é um filme muito bonito. Imagens bonitas, atrizes bonitas, luz bonita, trilha sonora bonita, figurinos e maquiagens bonitas. A fragilidade de Nina, lindamente interpretada por Natalie Portman (que, segundo consta, fez um ano intensivo de balé e emagreceu vários quilos para o papel) dá o tom ao filme que, pra algumas pessoas, é parado. Ai eu me pergunto: como um filme que fala da fragilidade humana, que tem uma personagem frágil e tão doce que praticamente não fala, mas sussurra pode ter ritmo acelerado. Creio, inclusive, que se tivesse estragaria. Outra reclamação que ouvi foi que o filme tem cenas fortes demais, tanto de sexo como de sangue. Bom, o filme realmente tem cenas de sexo (incluindo a tão comentada cena lésbica entre Nina e Lily) mas todas elas são absolutamente necessárias, nenhuma é em vão, nenhuma foi jogada ali apenas para aumentar a audiência. Claro que muito marmanjo foi ao cinema por isso... assim como, provavelmente muita gente foi ao cinema para ver um filme sobre balé, com lindas bailarinas dançando lindamente e também ficou decepcionado. Sobre o sangue, realmente pode incomodar algumas pessoas, algumas cenas chegam a causar mal estar. Mas que fique claro, Cisne Negro não é um filme “de balé”, não é um filme de terror, não é um filme de sexo... é um drama psicológico pesado, ambientado no universo do balé com visões, deformações, sangue, suor e sexo. A maioria das pessoas tem o estereótipo do balé e não conhece de fato esse universo que foi apresentado em Cisne Negro. Por se tratar de uma obra de arte e por focar nos problemas de Nina, muitos podem achar exagerado... Mas não é. Horas e mais horas de ensaio, repetições, calos, bolhas, suor e sangue nos pés fazem parte da vida de toda bailarina de uma grande companhia. Acrescente a isso o fato dessa bailarina buscar a perfeição: mais ensaios, mais repetições, ainda mais bolhas, calos, suor e sangue. Sobre esse universo do balé achei sensacional, por exemplo, o modo como foram mostrados os ensaios exaustivos, os barulhos das sapatilhas no assoalho, a preparação da sapatilha (meu marido achou super estranho elas serem “estragadas”...
Um elemento muito importante na narrativa que não posso deixar de comentar é o espelho. Sejam os espelhos usados nas aulas de balé, sejam os espelhos da casa de Nina, sejam os reflexos das janelas do metrô, seja o derradeiro espelho do camarim da primeira bailarina.
Reflexos sombrios, reflexos que se separam do corpo... Tão poético, tão assustador. As cenas que Nina se olha no espelho e seu reflexo está um pouco atrasado em relação aos seus movimentos são sensacionais! Fico inconformada em saber que algumas pessoas não repararam nisso. A ideia dos espelhos é genial. Não é nova, mas ilustra perfeitamente a perturbação de Nina, sua busca por seu oposto. O final (e o espelho que está relacionado diretamente a ele) é apoteótico. Freud ficaria em estase se estivesse vivo! Hehehehehe!!!
As “Ninas” de preto que a doce Nina pensava encontrar pelas ruas, nos trens, nos reflexos dos espelhos se ligam à metamorfose que, aos poucos, ela vai sofrendo em busca do cisne negro. Sua loucura a faz criar uma realidade paralela na qual já não consegue diferenciar o que é ou não real. Isso a conduz à sua meta, mas também à sua ruína.
É difícil escrever sobre esse filme, sobretudo sem cair naquilo que já foi escrito... Sem contar o final...
Pra mim esse é um dos melhores filmes que eu já vi (o que torna ainda mais difícil escrever sobre ele). Tudo o que eu tenho a dizer é que é imperdível.
Provavelmente não vai ganhar o Oscar de melhor filme (o que eu acho uma pena – mas já estou acostumada: eles não premiam filmes de ARTE), mas creio que, ao menos, Natalie Portman levará a estatueta de melhor atriz.